“O Escolhido”, primeira série de suspense brasileira da Netflix, estreia na sexta (28)

Foto: Enzo (Gutto Szuster), Lucia (Paloma Bernardi) e Damião (Pedro Caetano) enfrentam a resistência dos moradores da cidade de Aguazul

Por Juliana Tiraboschi

Uma equipe de médicos viaja até um vilarejo isolado no Pantanal para colocar em prática uma campanha de vacinação, mas encontra uma população sinistra e completamente hostil a eles.

Essa é a premissa de “O Escolhido”, nova série da Netflix que estreia nesta sexta-feira (28) e que é a primeira trama brasileira de suspense produzida pela plataforma de streaming. A trama tem direção-geral de Michel Tikhomiroff e é adaptada da série mexicana Niño Santo. A série terá seis episódios.

A trama é protagonizada por Lucia, papel de Paloma Bernardi, a chefe da equipe médica que vai para Aguazul, o vilarejo estranho onde os moradores são totalmente fechados e avessos à medicina moderna. Os médicos têm a missão de vacinar a população contra uma nova mutação do vírus que causa a zika, que está aparecendo na região.

Lucia e seus médicos enfrentarão a resistência dos habitantes à vacinação e vão descobrir que a cidade é devota do “Escolhido”, o líder de uma espécie de seita local. Os moradores dizem não precisar da medicina moderna porque nunca adoecem.

Veja o trailer de “O Escolhido”:

Mas a médica vai batalhar corajosamente para cumprir sua missão de vacinar a população. “Ela é uma líder por natureza”, disse a atriz na apresentação da série para a imprensa, que reuniu os principais atores da série. Paloma revelou que, logo no primeiro episódio, o público vai entender por que Lucia é tão obstinada para levar os avanços da ciência e da medicina ao maior número de pessoas possível.

Paloma Bernardi como Lucia, na série “O Escolhido”, da Netflix

Paloma também destacou o fato de a líder da equipe de médicos ser uma mulher, em uma época em que se fala tanto sobre empoderamento feminino. O primeiro episódio já mostra que Lucia tem que lidar com o machismo em seu ambiente de trabalho, como acontece em praticamente todas as profissões exercidas por mulheres. “Acho importante ter essa personagem mulher, que mostra que é independente e tem a profissão como principal foco da vida”, disse.

Ao lado de Lucia estão Damião (Pedro Caetano) e Enzo (Gutto Szuster). Damião é um médico negro, o que já é uma questão em um país como o Brasil, que tem tão poucas pessoas negras exercendo a medicina. Ele vem de uma família pobre e enfrentou a violência do padastro para conseguir se formar. “A medicina o salvou, e agora ele quer salvar os outros também”, disse o ator Pedro Caetano. Já Enzo é o oposto: um jovem branco, de classe alta, seguindo os passos do pai médico, mas querendo também encontrar o próprio caminho.

Se de um lado estão os médicos, representantes da ciência, de outro está o “Escolhido”, o líder de uma seita que atraia a lealdade cega dos moradores de Aguazul e que deteria o poder da cura. “Ele é magnético pois guarda muitos segredos”, disse o ator Renan Tenca.

Ao lado do Escolhido estão personagens como Mateus, que é uma espécie de porta-voz do curandeiro e o responsável por manter os forasteiros longe do vilarejo. Segundo Mariano Martins, ator que interpreta Mateus, ao longo dos episódios o personagem vai descobrir mais sobre o mundo “lá fora” e ter suas crenças testadas. “Lucia coloca Mateus no chão e traz lucidez para ele, o colocando em constante provação”, disse.

Renan Tenca como “O Escolhido” / Foto: Divulgação Netflix

A série “O Escolhido” foi filmada em Natividade, no Tocantins. A equipe passou três meses vivendo o cotidiano do pequeno vilarejo enquanto gravava as cenas. Muitas histórias e mitos locais acabaram sendo incorporados à trama da produção pelos roteiristas Carolina Munhóz e Raphael Dracoon, que também são co-produtores. Como a lenda do Minhocuçu que é citada na série. Dizem que a igreja local não pode ser restaurada, pois a minhoca gigante estaria preso nos cabelos de Nossa Senhora.

Na apresentação da série para a imprensa, todos os atores comentaram sobre como foi importante a interação com os moradores locais, que inclusive fizeram figuração na série, para imprimir veracidade à produção.

A atriz Allison Willow, que faz Angelina, braço direito do Escolhido, comentou que ficou impressionada com o conhecimento dos habitantes de Natividade sobre a o funcionamento da natureza, coisa que os moradores de cidades grandes foram perdendo ao longo do tempo. “Uma menina que conheci sabia dizer qual seria a duração da chuva dependendo de onde as nuvens estavam vindo”, disse.

Allison Willow como Angelina, em “O Escolhido”

Outro aspecto destacado pelos atores é o fato de Natividade ser uma cidade colonial muito antiga. Que traz até hoje marcas da escravidão. “Nós gravamos em locais como uma antiga senzala”, contou Pedro Caetano.

Para Renan Tenca, essa história registrada, que a direção de arte fez questão de manter, acrescentou camadas de realidade à trama. “O aspecto violento da história é extremamente brasileiro e contemporâneo”, disse.

Produção e atores

A produção da série é bastante caprichada nos cenários detalhados do vilarejo, tomadas externas e iluminação e sonorização. O tom do suspense é eficaz, mantendo o espectador na tensão de querer saber o que vai acontecer em seguida e descobrir os segredos de Aguazul. Esses elementos são o que basta para que “O Escolhido” atraia a atenção dos espectadores.

A ressalva aqui vai para alguns pontos do roteiro e direção de atores. Se em vários momentos o roteiro constrói bons diálogos e uma interação convincente entre as figuras da história, em outros a empostação e conjugações verbais pouco usuais em diálogos coloquiais tornam as conversas entre os personagens um tanto formais demais e forçadas, algo relativamente comum de acontecer em produções brasileiras

Como, por exemplo, em uma cena que um personagem fala algo como “fuja, fuja enquanto ainda há tempo”, um tipo de construção que soa artificial. Mas não é algo que estrague a experiência do espectador.

O destaque positivo fica para a atriz Tuna Dwek, que faz Zulmira, uma importante líder local e ferrenha crente nos poderes do “Escolhido”. Segundo a atriz, Zulmira não é uma seguidora cega do curandeiro, mas escolheu conscientemente esse caminho. “Ela tem uma relação de simbiose com ele, um precisa do outro”.

A atriz Tuna Dwek (à direita, de cabelos longos), em cena como Zulmira, com figurantes locais da cidade de Natividade (TO)

Atriz experiente de novelas, séries e cinema, Tuna faz uma personagem muito forte e obstinada, daquele tipo que os outros não querem cruzar seu caminho porque sabem que vão ter problemas. Em uma cena, o personagem de Enzo comenta que Zulmira “dá medo”. E dá mesmo, sentimento que Tuna consegue provocar nos outros personagens e no espectador apenas com o olhar.

Outro destaque do elenco é Francisco Gaspar, experiente e talentoso ator de TV e cinema, que faz o barqueiro Silvino, morador de um vilarejo vizinho a Aguazul. É um papel menor, mas importante na série, já que ele representa uma ponte entre os médicos forasteiros e a estranha cidadezinha.

Durante esse embate entre ciência e espiritualidade, os médicos vão descobrir que coisas estranhas realmente acontecem em Aguazul. Seria o Escolhido um charlatão, ou alguém com reais poderes sobrenaturais? Isso o público só vai descobrir, supomos, ao final da temporada.

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