“Euphoria”, nova série da HBO, mostra realidade crua dos adolescentes dos anos 2010

Por Juliana Tiraboschi

Foto: Divulgação

Quem foi adolescente nos anos 1990 deve se lembrar do filme “Kids”, de 1995, que marcou época e mostrava o cotidiano de um grupo de adolescentes americanos de um jeito cru e realista em meio ao uso abusivo de drogas e prática de sexo sem proteção.

Pois seria “Euphoria”, a nova série da HBO, uma espécie de “Kids” dos anos 2010, acrescida das tecnologias que não existiam na época, como smartphones e redes sociais?

“Euphoria” estreia no próximo domingo (16), às 23 horas, e tem criação e roteiro de Sam Levinson, que é o produtor executivo junto com o rapper e produtor musical Drake. A produção é baseada na série homônima criada por Ron Leshem e Daphana Levin para o canal israelense HOT.

A série gira em torno da vida de Rue, interpretada pela atriz e cantora Zendaya, e seus amigos. A história é narrada pela própria Rue, que conversa diretamente com o público. Ela revela que desde criança usava medicamentos para tratar ansiedade e déficit de atenção e que se tornou uma adolescente viciada em drogas que mente para a família sobre sua reabilitação.

Além do abuso e vício em drogas, a trama trata de temas como sexo casual, perda da virgindade, insatisfação com o corpo, relacionamentos com pessoas mais velhas, relação com a família, envio de “nudes” e exposição dos jovens na internet (principalmente as meninas e sem o consentimento delas).

Veja o trailer de “Euphoria”:

Alguns trechos são bastante tensos e explícitos, como as cenas de sexo, e fazem o espectador adulto refletir sobre como diabos vamos lidar com a adolescência dos nossos filhos quando chegar esse momento. A iluminação ora soturna, ora psicodélica das cenas, em tons de rosa, azul e roxo/lilás, aliada às batidas das músicas e aos movimentos rotativos da câmera e enquadramentos não convencionais, ajudam a dar uma sensação de vertigem e incômodo ao espectador.

A edição é acelerada e espertinha, com a narração irônica da personagem principal e algumas intervenções de edição, como legendas sobrepostas às imagens. Porém, a trama também apela para aquele velho clichê de séries e filmes adolescentes americanos de festas regadas a muito álcool e drogas e pegação pesada.

Mas, mesmo com esses clichês, “Euphoria” se diferencia por ser muito mais sombria e densa do que outras séries adolescentes do momento, como “Riverdale”, o que reflete um pouco do estilo HBO de fazer seriado, com tramas complexas e protagonistas menos maniqueístas, que não são mocinhos e nem vilões. Rue é uma personagem que desperta ora pena, ora irritação no espectador.

A série até lembra um pouco o estilo narrativo de “13 Reasons Why”, mas de um jeito mais maduro. Parece ser menos uma série voltada para adolescentes e mais uma série para adultos sobre adolescentes. E um pequeno plot twist no final do piloto é o suficiente para dar vontade de assistir ao próximo episódio.

Cabe aqui um parêntese: na exibição para a imprensa, algumas cenas estavam muito escuras, questão que foi motivo de uma chuva de críticas à HBO quando a produtora exibiu o terceiro episódio da oitava e última temporada da série “Game of Thrones”. Torcemos para que a escuridão tenha sido um efeito dos equipamentos de projeção mesmo, e não uma característica da série.

Zendaya, conhecida pela série “KC Undercover”, do Disney Channel, e pelo filme “Spiderman: Homecoming”, está muito bem no papel. Ela transmite mesmo a imagem de uma adolescente conturbada de maneira realista e se encaixa bem na série, diferentemente de outros seriados e filmes em que atores adultos interpretam adolescentes de forma pouco convincente (a atriz tem 22 anos).

Outro destaque do elenco é Hunter Schafer, atriz transgênero que interpreta Jules. A personagem é uma garota nova na cidade que logo no primeiro episódio confronta o valentão da turma e fica amiga de Rue.

A atriz Hunter Schafer / Foto: Reprodução Instagram

O elenco conta também com Maude Apatow, Angus Cloud, Eric Dane, Alexa Demie, Jacob Elordi, Barbie Ferreira, Nika King, Storm Reid, Hunter Schafer, Algee Smith e Sydney Sweeney.

Em uma cena do primeiro episódio, Rue diz que, a essa altura, “nós”, os espectadores, devemos estar a odiando. “Mas, se eu pudesse ser uma pessoa diferente, eu seria”, diz a personagem. E esse não é o dilema da maioria dos adolescentes, que se debatem entre querer ser alguém diferente do que se é ou se aceitar realmente e deixar florescer sua verdadeira identidade?

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